Poesias

Desvendar é preciso

 Toda história  é convite pra navegar
em águas profundas, em vagas fecundas,
    em faces desnudas, em chaves do mundo
que contam seus vultos, que somam seus  fluxos,
seus  luxos, lutos, insultos. 

Ela guarda  as verdades mais secretas, discretas
que encantam  as mentes mais inquietas 
por desvendar  toda a terra,
desvelando os permeios
das (des) humanas guerras
que (re) fundam a  própria  história.   

Ela permite  espreitar, 
dos homens, os corações,     
suas  razões, seus caminhos e comunhões, 
encruzilhadas e  divisões,
           seus atalhos e encalhes ou pontos
(de)fendidos em seus sentidos
mais  escondidos. 

Navegar é preciso pelo mar do desvendar. 
Desvendar  o homem,  a terra,
seus sentidos e luzes enterrados
   nos escombros da  história
que está sempre  a ser
reconstruída,
redescoberta,
reinventada,
reesculpida.


O Lugar

Meu lugar é o meu paraíso se ali tenho o que
preciso e o que tenho, por simples que seja,
me faça viver, sonhar, sorrir, e pra mim seja
algo de profundo prazer e porvir.

Falo do gosto - na vida -  de ter forças pra lutar,
pra abraçar o rosto do amanhecer, da tarde, do
anoitecer e de todos os  (inumeráveis)
próximos - amigos,
alguns dos quais até apresento:
minha árvore, meus pássaros, meu riacho,
ou mesmo o singelo banco em que me sento,
onde por vezes até, refletindo, me acho...

É, o meu lugar é onde tenho os melhores laços.
É ele o melhor amigo,
o  nosso mais fausto e prazeroso abrigo,
que pode ser a casa, a rua, a viela,
o boteco, a festa, ou mesmo a favela,
o roçado de trigo,  o cavalo, a vaquinha amarela,
os pássaros,  as galinhas, as ovelhas
e até o pôr do sol, com seu matizado arrebol,
ou ainda a dama-noite, cujas teias de fazer sonhar
encantam os namorados que, sob o frescor da
inefável brisa,
se dançam, se amam ao luar
sob a bênção das estrelas, estas, guias,
também fiéis amigas
da estrada, da gente que busca trilhas!

O nosso melhor lugar
é o que dá forças pra gente não parar,
mas, sim, com fé agarrar a lida,
e fazer o que a gente sente no peito,
fazer do nosso jeito, o que gosta
mesmo que não dê conta
de decifrar as luzes
e os incontáveis embustes e embates da vida
ou entender suas esdrúxulas e inesperadas
propostas, corridas, feridas, saídas...

Agora, pra ter senso de verdade,
a maior desgraça a enfrentar
é ser forçado a do amigo se apartar,
e precisar desfazer de tudo o que veio a ter na
vida pra alguns vinténs vir a ganhar,
a fim de buscar outro sobreviver.

Desgraça é ter que abandonar
o nosso mais íntimo modo de estar e ser
e, às vezes, sem saber pra onde ir,
(só de falar dá tristeza, nem gosto)
ter que partir pra qualquer outro locus habitar.

Desgraça é ter que se enveredar em um lugar
estranho,sem amanho, desconexo, talvez medonho
porque não é onde o sonho da gente quer morar,
simplesmente porque ali não é o nosso lugar...

Poesia ativa: o pão da educação!


A geografia  é  ativa  e  apraz 

quando  se   faz    viva    poesia, 

provocativa  no indagar o pensar,

olhar, agir 

sobre o mundo e derredor, 

buscando  um sentido maior

que  abre a mente,e faz ver  fundo:  

o que mente, o formal e o indecente... 



A reflexão que se quer agregar

fala da  geografia que desoculta

( aos olhos)

tempos, espaços, territórios

e paisagens abruptas,  perdidas, 

roubadas,regradas,  iludidas...

Quer  falar do  profícuo  

e  profundo galgar da  ávida filosofia

que abre as cortinas da vida 

em seu  complexo deslizar... 



Nossa  reflexão quer ser semente

que planta outros dias  

em que as gentes terão o pão

num mundo de mais valia: 

não a mais-valia que rouba sonhos, 

alegrias e produções,

mas a mais valia da vida

regada e saciada

com o pão sagrado da educação.  



Geografia  em poesias

quer  plantar reflexão

pra repensar as correntes  

míopes ou cegas.    

E se encarrega de cultivos

bem  fecundos

pra fazer  (re)ver os mundos

pelo crivo profundo  de outras  lentes.



Quer plantar   conhecimentos

de  olhares  contundentes

capazes de tecer, de repente,

outras  vigas, outras bases

de vidas decentes  pras gentes. 


      Impactos humanos

Impactos humanos,       impactos humanos
sobre as águas, os ares,     florestas e oceanos;
sobre os solos,     as plantas,
os lagos, rios        e animais.
Impactos que           tocam a terra
embotam a natureza,           a vida e seus confins,
que cobram dos homens     a própria  vida
que, exaurida, destruída,    chega ao fim.
                              São tantos   impactos humanos,
                     são largos,     profundos seus
          rastros e  fontes      tornadas infecundas,
            seus traços sem fim    espalhados pelo mundo!...

                  Todo         impacto que
        se crava na terra afeta         os próprios homens,
               seus sabores, cheiros,     odores que embargam
                     e achagam os seus vívidos   sentidos.
        A terra, ferida, se torna     árida, inválida, fétida
e, nessa condição, invalida,     cala, lança à vala,
                   à perdição,      a própria vida.
          Impactos humanos,      impactos humanos.
Impactos dos homens,     seus planos
cônscios, incônscios,      tiranos...

                 O homem retira de si,    e dos outros homens,
seus próprios anos plantando       à terra impactos,
                                  desabonos,          desenganos
               e incomensuráveis        danos...

     O camponês
 
      O camponês dá carinho à sua terra,
      como carinho dá o filho à sua mãe.
    O camponês, tempos atrás cultivava
                      seu sustento,
                    hoje o que faz
                   sustenta o banco
                    e mais alguém...
          O camponês bebia  
                    água da fonte.
                   Hoje tem sede,
            a fonte secou também.
O camponês ainda cultiva sua fé, olha pro céu pra ver se ajuda
vem... Ocamponês se une com outros roceiros. Se organizando,
algum dinheiro até  que vem... Se a coisa aperta o camponês
                busca   outras terras onde há promessa
                       de uma vida que convém.
                  Se não dá certo,
                 o camponês vai
                      pra cidade,
                    Ser favelado,
                bóia-fria, zé-ninguém.
                  Lembra da terra,
               sua mãe, o camponês,
                 e reforma agrária
              ele quer fazer também.
           Se não conquista a terra,
         o camponês morre de tédio,
     pois a cidade para ele dá desdém.
      Mas, quando morre, o camponês conquista terra,
      embora sejam poucos  palmos que  lhe convêm.
  Mas pouco tempo pra usá-la tem o camponês, já que
  logo  outros roceiros ambém vêm, disputam a terra
                        pra  descansar também...