Desvendar é preciso
Toda história é convite pra navegar
em águas profundas, em vagas fecundas,
em faces desnudas, em chaves do mundo
que contam seus vultos, que somam seus fluxos,
seus luxos, lutos, insultos.
Ela guarda as verdades mais secretas, discretas
que encantam as mentes mais inquietas
por desvendar toda a terra,
desvelando os permeios
das (des) humanas guerras
que (re) fundam a própria história.
Ela permite espreitar,
dos homens, os corações,
suas razões, seus caminhos e comunhões,
encruzilhadas e divisões,
seus atalhos e encalhes ou pontos
(de)fendidos em seus sentidos
mais escondidos.
Navegar é preciso pelo mar do desvendar.
Desvendar o homem, a terra,
seus sentidos e luzes enterrados
nos escombros da história
que está sempre a ser
reconstruída,
redescoberta,
reinventada,
reesculpida.
O Lugar
Meu lugar é o meu paraíso se ali tenho o que
preciso e o que tenho, por simples que seja,
me faça viver, sonhar, sorrir, e pra mim seja
algo de profundo prazer e porvir.
Falo do gosto - na vida - de ter forças pra lutar,
pra abraçar o rosto do amanhecer, da tarde, do
anoitecer e de todos os (inumeráveis)
próximos - amigos,
alguns dos quais até apresento:
minha árvore, meus pássaros, meu riacho,
ou mesmo o singelo banco em que me sento,
onde por vezes até, refletindo, me acho...
É, o meu lugar é onde tenho os melhores laços.
É ele o melhor amigo,
o nosso mais fausto e prazeroso abrigo,
que pode ser a casa, a rua, a viela,
o boteco, a festa, ou mesmo a favela,
o roçado de trigo, o cavalo, a vaquinha amarela,
os pássaros, as galinhas, as ovelhas
e até o pôr do sol, com seu matizado arrebol,
ou ainda a dama-noite, cujas teias de fazer sonhar
encantam os namorados que, sob o frescor da
inefável brisa,
se dançam, se amam ao luar
sob a bênção das estrelas, estas, guias,
também fiéis amigas
da estrada, da gente que busca trilhas!
O nosso melhor lugar
é o que dá forças pra gente não parar,
mas, sim, com fé agarrar a lida,
e fazer o que a gente sente no peito,
fazer do nosso jeito, o que gosta
mesmo que não dê conta
de decifrar as luzes
e os incontáveis embustes e embates da vida
ou entender suas esdrúxulas e inesperadas
propostas, corridas, feridas, saídas...
Agora, pra ter senso de verdade,
a maior desgraça a enfrentar
é ser forçado a do amigo se apartar,
e precisar desfazer de tudo o que veio a ter na
vida pra alguns vinténs vir a ganhar,
a fim de buscar outro sobreviver.
Desgraça é ter que abandonar
o nosso mais íntimo modo de estar e ser
e, às vezes, sem saber pra onde ir,
(só de falar dá tristeza, nem gosto)
ter que partir pra qualquer outro locus habitar.
Desgraça é ter que se enveredar em um lugar
estranho,sem amanho, desconexo, talvez medonho
porque não é onde o sonho da gente quer morar,
simplesmente porque ali não é o nosso lugar...
Poesia ativa: o pão da educação!
A geografia é ativa e apraz
quando se faz viva poesia,
provocativa no indagar o pensar,
olhar, agir
sobre o mundo e derredor,
buscando um sentido maior
que abre a mente,e faz ver fundo:
o que mente, o formal e o indecente...
A reflexão que se quer agregar
fala da geografia que desoculta
( aos olhos)
tempos, espaços, territórios
e paisagens abruptas, perdidas,
roubadas,regradas, iludidas...
Quer falar do profícuo
e profundo galgar da ávida filosofia
que abre as cortinas da vida
em seu complexo deslizar...
Nossa reflexão quer ser semente
que planta outros dias
em que as gentes terão o pão
num mundo de mais valia:
não a mais-valia que rouba sonhos,
alegrias e produções,
mas a mais valia da vida
regada e saciada
com o pão sagrado da educação.
Geografia em poesias
quer plantar reflexão
pra repensar as correntes
míopes ou cegas.
E se encarrega de cultivos
bem fecundos
pra fazer (re)ver os mundos
pelo crivo profundo de outras lentes.
Quer plantar conhecimentos
de olhares contundentes
capazes de tecer, de repente,
outras vigas, outras bases
de vidas decentes pras gentes.
Impactos humanos, impactos humanos
sobre as águas, os ares, florestas e oceanos;
sobre os solos, as plantas,
os lagos, rios e animais.
Impactos que tocam a terra
embotam a natureza, a vida e seus confins,
que cobram dos homens a própria vida
que, exaurida, destruída, chega ao fim.
São tantos impactos humanos,
são largos, profundos seus
rastros e fontes tornadas infecundas,
seus traços sem fim espalhados pelo mundo!...
Todo impacto que
se crava na terra afeta os próprios homens,
seus sabores, cheiros, odores que embargam
e achagam os seus vívidos sentidos. A terra, ferida, se torna árida, inválida, fétida
e, nessa condição, invalida, cala, lança à vala,
à perdição, a própria vida.
Impactos humanos, impactos humanos.
Impactos dos homens, seus planos
cônscios, incônscios, tiranos...
O homem retira de si, e dos outros homens,
seus próprios anos plantando à terra impactos,
desabonos, desenganos
e incomensuráveis danos...
O camponês
O camponês dá carinho à sua terra,
como carinho dá o filho à sua mãe.
O camponês, tempos atrás cultivava
seu sustento,
hoje o que faz
sustenta o banco
e mais alguém...
O camponês bebia
água da fonte.
Hoje tem sede,
a fonte secou também.
O camponês ainda cultiva sua fé, olha pro céu pra ver se ajuda vem... Ocamponês se une com outros roceiros. Se organizando,
algum dinheiro até que vem... Se a coisa aperta o camponês
busca outras terras onde há promessa
de uma vida que convém.
Se não dá certo,
o camponês vai
pra cidade,
Ser favelado,
bóia-fria, zé-ninguém.
Lembra da terra,
sua mãe, o camponês,
e reforma agrária
ele quer fazer também.
Se não conquista a terra,
o camponês morre de tédio,
pois a cidade para ele dá desdém.
Mas, quando morre, o camponês conquista terra,
embora sejam poucos palmos que lhe convêm.
Mas pouco tempo pra usá-la tem o camponês, já que
logo outros roceiros ambém vêm, disputam a terra
pra descansar também...